Sou fã de filmes de terror e os filmes de The Purge, apesar de não serem dos meus preferidos, geram-me algum interesse. Por isso, quando sai um novo tento ver.
Assim, ao saber que iria ser criada uma série com a mesma temática, fiquei curiosa. The Purge ganha um novo ar. Outra vantagem da quarentena é termos a oportunidade de espreitar estas séries novas e expurgar... a nossa vontade de mais episódios!
Tal como nos filmes, a série relata-nos a sobrevivência, ou não, de um conjunto de pessoas na noite da purga. Esta é uma noite criada por NFFA, um partido político, em que todos os anos, por 12 horas, todos os crimes são permitidos. Sim, homicídio incluído. E claro, os serviços de emergência são parados. Quem quiser, pode cometer um crime sem recear as consequências. Esta medida teria como objetivo criar uma nova América, com uma taxa de crime menor durante o resto do ano.
Começamos na primeira temporada (de duas, até ao momento) com um início lento. São-nos apresentados vários pontos de vista e personagens, enredos que parecem não se cruzar. Vamos conhecendo toda a gente e criando empatia por alguns. Temos os bons e os maus, aqueles que acreditam nesta noite como um direito e os que apenas querem sobreviver. Temos uma mistura, dos que nunca matariam, mas tiveram que o fazer; daqueles que se pensavam incapazes, mas têm curiosidade sobre tal.
Começamos com uma festa dos NFFA, em que o casal Jenna e Rick são convidados e querem tentar fazer um negócio, usar o dinheiro sujo para um bem maior. Percebemos que eles têm uma relação controversa com Lila, filha de dois fundadores. Mas ela é diferente, ou não será? Jenna está grávida e tem que proteger a sua bebé, mas esta festa é perigosa e a sua própria casa também o pode ser.
Avançamos para Miguel, um militar que procura a irmã para a salvar de um culto que se aproveita de jovens fragilizados para os usar como voluntários nesta noite. Ele é definitivamente o herói da temporada, será que se salvam?
Outra personagem que se destaca é Jane, uma feminista dedicada ao trabalho, uma mulher de negócios com uma relação complicada com o chefe. Afinal, ele é um canalha que tenta tirar vantagem do cargo para manipular as mulheres, além de pedir à equipa para trabalhar nesta noite perigosa. Jane pede a alguém que o mate esta noite, não sendo capaz de o fazer. No entanto, o chefe é pior ainda do que aquilo que pensa e ela, arrependida, coloca-se em perigo.
Nem todos se salvam e a tensão cresce ao longo dos episódios, assim como a empatia por eles. Nada parece uni-los e, no início, isso é confuso e disperso. Mas depois chega o elemento que une tudo: Joe. Joe é um homem que surge sempre de máscara, salvando várias personagens e dizendo que os vai levar para um lugar seguro. Um herói... ou não. É ele que junta todas as personagens, apesar de forma pouco satisfatória, para mim.
Já a segunda temporada é um pouco diferente, apesar de seguir a mesma lógica de personagens e histórias separadas, que acabam por ter algo em comum. Temos no início (dos inícios, nada mais) uma atualização sobre as personagens da primeira temporada. Depois, tudo é diferente.
A parte mais interessante e mesmo a vantagem da segunda temporada é mostrar-nos um pouco dos "bastidores" e das regras (sim, regras) da purga. É prometido que este feriado anual permite que a violência e criminalidade diminuam no resto do ano, mas será verdade? Será que as pessoas têm capacidade para viver a vida como se este dia nunca tivesse acontecido? Como se não tivessem perdido alguém, sido criminosos por horas ou que lhes tenha acontecido algo horrível? Para quem faz algo mau, será que esse dia chega?
Algumas respostas são-nos respondidas. Vemos que as pessoas ficam traumatizadas, que planeiam este dia durante um ano, seja para atacarem ou para se protegerem. Há quem acabe por matar nos outros dias também.
Também vemos que estes crimes são observados, por uma equipa de vigilância que, através de câmaras de vigilância na rua, observa as ruas e verificam se os crimes são todos permitidos. Afinal, nem todas as armas são permitidas e um segundo antes ou depois da sirene tocar, a pessoa é responsabilidade pelo seu crime.
Ficamos perante um casal que sofre uma tentativa de homicídio e percebe que foi planeado, tentando descobrir quem e porquê os quer matar. O filho desse casal, que se envolve num esquema perigoso contra o governo. Uma das trabalhadoras dessa equipa de vigilância que, investigando a morte de uma amiga, acaba por ser procurada pelo governo. Um grupo de ex-polícias que agora planeia assaltos, apesar das suas boas razões. Um jovem caloiro que quase é morto nessa noite, mas mata o seu agressor, ficando com um trauma que o transforma e lhe muda a vida.
Obviamente, parece que os efeitos positivos desta noite anual não são tantos como o governo promete. É claro, parece haver intenções políticas por trás de tudo isto e os cidadãos estão a ser enganados. Não há dúvidas de que isto, na prática, seria ridículo e nefasto. Mas dá que pensar, sobretudo quando se dão ao trabalho de mostrar como países europeus querem ter também um feriado igual. Será que uma noite onde o crime é permitido realmente ajuda a criminalidade ou é apenas uma manobra do próprio governo para eles controlem as pessoas, usarem o dia com fins económicos e tirarem benefício próprio, cometendo crimes governamentais?
A reflexão é boa, mas acaba por se perder numa temporada que eu considero um pouco fraca. Um argumento medíocre e personagens mornas. Sinto que se tornou aborrecido e acabei por perder o entusiasmo. Também gostaria que existisse alguma relação entre as duas temporadas, não gostei que a primeira se tivesse perdido por completo. No entanto, nem tudo é mau. Além de um bom ponto de partida (não tão bem aproveitado), tivemos um final digno, adequado. Uma esperança ligeira, a prova de que a purga não tem os benefícios que dizem. Foi uma série suficiente para os fãs do filme e para os curiosos do terror. Deu para matar a curiosidade seriólica da quarentena!
A série foi cancelada após duas temporadas. Foi, na minha opinião, uma boa decisão, apesar de recomendar estas temporadas a quem gosta dos filmes. Já esses, saindo mais, não vou perder!
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