Há séries que, mal aparecem no catálogo (no caso, da Netflix), eu sei que tenho que as ver.
Foi o caso de Por Trás dos Seus Olhos, um thriller amplamente publicitado, que ajudou a criar um hype bem grande. Para mim, mais do que o facto de ter entrado logo nos tops, foi ver o vídeo promocional e perceber que seria mesmo o meu estilo de série. Uma série pequena e boa, que se vê rapidamente. Porque não?
Por Trás dos Seus Olhos conta-nos a história de um triângulo amoroso, mas em forma de thriller. Louise e David conhecem-se por acaso num bar, criando uma empatia imediata. Tudo tem um senão e um envolvimento tarda a acontecer porque David é casado. Ambos seguiriam em frente, mas descobrem que David é o novo psiquiatra da clínica onde Louise trabalha. Como se não bastasse, ela conhece Adele, esposa de David, por acaso na rua e acabam por se tornar amigas. Por um lado, temos Louise e David, que acabam por se envolver numa relação extraconjugal cheia de química. Por outro lado, temos Louise e Adele, numa amizade que parece cada vez mais sólida e benéfica para ambas.
É óbvio desde o primeiro momento que há muitos segredos e mentiras. Algo que provoca em David um vício com a bebida e que o impede de terminar o seu casamento. Adele parece ser uma vítima e, ao mesmo tempo, sabemos que é provável que ela seja a vilã. Essa é a mestria da história.
Há muita coisa que é contada sem, de facto, o ser. A série é pensada para nos dar pistas ao longo dos episódios, nunca de forma óbvia, com a premissa de que o telespectador é uma pessoa inteligente e saberá ler os sinais, por muito subtis que sejam. Adele é uma vítima e, ao mesmo tempo, carrega uma atmosfera pesada que nos faz aguardar pelo momento em que se transforma numa esposa psicótica, bem ao estilo de "Gone Girl" (Em Parte Incerta). Foi fácil eu fazer o paralelismo entre ambos no início da série, o que para mim queria dizer muito, já que se trata do meu livro e filme favorito (bem, pelo menos no pódio). Era mesmo isso que esperava, um thriller psicológico que nos mostrasse o lado mais sombrio da mente humana. Bem, não foi bem isso que obtive, mas vamos lá chegar a seu tempo.
Esta série tornou-se viciante rapidamente, por vários motivos. As interpretações eram muito boas, sobretudo de Eve Hewson, que dá vida a Adele. É incrível como basta uma expressão para nos passar o sentimento que supostamente a personagem tenta esconder!
É uma personagem bem complexa e traz-nos muitas versões de Adele, desde a mais nova e inocente, enfrentando os seus problemas numa instituição psiquiátrica, até uma personagem adulta e madura, que tanto é triste e solitária como fria e calculista.
A história é boa e prende-nos logo. O fator romance também é importante para tal. Louise e David são o tipo de personagens que criam empatia e, juntos, têm uma química que nos toca o coração. Apesar de todos os motivos pelos quais a relação é proibida, nós zelamos por eles. Queremos que exista uma forma de funcionar.
É claro, ambos cometem muitos erros, mas que os tornam humanos. Poderíamos ser nós?
Esta série tem apenas seis episódios, o que tanto é bom (temos algo conciso, sem episódios de encher chouriços) como mau (queremos mais, o suspense precisa de tempo para ser sentido). Quatro ou cinco desses episódios foram quase perfeitos. Depois, vem o final. Sim, vamos falar sobre o final. Isto sem tentar não contar o desfecho nem dar spoilers.
Penso que é consensual que o fim foi fraco, mesmo seguindo o enredo do livro que originou a série (o qual ainda não li). Para mim, deixamos de ter um thriller psicológico para passar a ser sobrenatural. Talvez esotérico fosse a palavra correta, mas penso que o último episódio vai além disso.
Temos personagens bem construídas e uma história que nos interessa bastante, mas chegamos ao fim e sinto que isso não culmina num final que faça justiça aos episódios anteriores. Ainda estou a tentar perceber o motivo pelo qual caiu tão mal. Penso que foi pelo que facto de ter fugido muito da linha inicial.
O sobrenatural não só foi adicionado à trama principal como se tornou a justificação de toda uma trama que parecia ser bem mais complexa. Além disso, a forma como o fizeram foi um pouco básica e utilizando efeitos especiais que não se justificam em pleno século XXI. Se foi alusivo ao cartaz e acabou por explicar algumas coisas? Sim, foi. Mas também me fez lembrar o filme Bela Adormecida com os efeitos.
Não me interpretem mal. Sou fã de terror e de sobrenatural. Apenas penso que calhou mal.
O plot twist final também não ajudou nada, tendo a última cena sido banal, o típico final de filmes de terror comuns...
No entanto, continuo a ser da opinião que os primeiros episódios são tão bons que a série merece ser vista na mesma! Concordam?
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