Umas das séries que acompanhei durante esta época de pandemia foi Bojack Horseman, uma série de comédia de animação, já finalizada com 6 temporadas.
Apesar de a animação não ser propriamente o meu estilo, senti a necessidade de ver algo diferente e, tendo-me sido recomendada, decidi dar-lhe a oportunidade.
Vamos lá finalmente falar sobre isto! Sim, porque houve tanta emoção para digerir que demorei um pouco até vir aqui escrever sobre ela.
Bojack Horseman é a personagem principal, dando nome à série, um cavalo ator, que enfrenta os dramas de Hollywood refugiando-se em álcool e drogas. Com uma personalidade ligeiramente narcisista, Bojack é extremamente complexo. O tipo de pessoa tóxica com quem não gostaríamos de lidar, mas, ao mesmo tempo, alguém com quem criamos empatia desde o primeiro momento, agarrando-nos ao ecrã.
Esta é a série ideal para confinar! Apesar de já ir em seis temporadas, os episódios têm cerca de 20 minutos, pelo que dá para ver tranquilamente, adaptando o número de episódios ao nosso tempo disponível (dá sempre para um episódio entre ir passear o cão ou despejar o lixo ahah). Além disso, tem o equilíbrio perfeito entre comédia e assuntos sérios, nomeadamente relativos à saúde mental, o que convenhamos que é bastante oportuno.
Bojack é mais do que viciado e do que uma estrela de Hollywood, é uma personagem real e com falhas humanas. Sim, porque neste mundo humanos e animais socializam da mesma forma e têm as mesmas capacidades.
A série é inteligente e alerta-nos para os perigos do mundo de Hollywood, para as perversidades do mundo do espetáculo. Ao mesmo tempo, chama-nos à atenção para várias problemáticas sociais, que são sempre atuais, como o aborto ou os direitos da mulheres. A verdade é que utiliza muitas vezes a sátira e uma forma nua e crua de o fazer, por vezes chocante, mas sempre com impacto e que deixa no telespectador o dever de refletir.
Já no campo da saúde mental e emocional, muitos são os temas abordados, tendo em conta que a série gira à volta disso e nós somos levados a observar isso pela perspetiva das várias personagens - cada uma com as suas vicissitudes, mas também a sua história de vida e com circunstâncias que levam a caminhos diferentes. Vemos não só a questão do abuso de substâncias, como a importância dos traumas de infância, a depressão, a ansiedade, a autoestima, (...). Por isso mesmo, cada uma das personagens é complexa da sua forma, desempenhando o seu papel importante na série e assumindo uma posição de relevância. É isto que nos faz criar laços com a série. A identificação.
Não seria eu se não deixasse aqui umas palavras a duas das minhas personagens preferidas: Diane e Princess Carolyn. Diane, aquele exemplo de mulher escritora, inteligente e boa amiga. Princess Carolyn, a inspiração de qualquer pessoa de tão guerreira que é, capaz de tudo a que se propõe! Duas personagens com imenso a mostrar!
O final foi satisfatório, com um desenvolvimento muito grande de todas as personagens, cada uma com um fim adequado. Gostava de ter visto um pouco mais, ou algo diferente, se calhar algo mais feliz e cor de rosa. Não era isso que a série pedia e, por isso, não me desiludi. No entanto, não deixei de achar um pouco solitário.
Recomendo imenso a série, toca a ir à Netflix vê-la!
É o tipo de série que nos faz refletir e absorver cada palavra, de tão profundas e intensas que são as cenas. Provavelmente, levarei daqui várias das minhas citações preferidas para toda a vida! Alerto que nem sempre é fácil, por vezes torna-se demasiado emocional e pesado (deprimente até!), sobretudo no antepenúltimo e penúltimo episódio, sempre mais marcantes. Mas, se assim não fosse, não valia a pena, não é?
Aqui fica o trailer:
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