Hoje vou falar sobre um livro de Stephen King! Vamos lá fingir surpresa...
Desta vez, trago "Sr. Mercedes", o primeiro livro da trilogia que deu origem à série com o mesmo nome (Mr. Mercedes). A série está fenomenal, com suspense, personagens fantásticas, uma trama de agarrar ao ecrã, interpretação majestosas... Adoro e recomendo! Está no meu top de séries. Holly Gibney é das melhores personagens de sempre!
Com tanto entusiasmo, tinha que ver como era nas páginas!
De que se trata, então, a história?
Bill Hodges é um detetive reformado que não consegue ultrapassar um caso por resolver: o homicídio do Sr. Mercedes. Não sendo conhecida a identidade deste assassino, ficou conhecido por matar oito pessoas num massacre direcionado a uma feira de emprego. Desempregados cuja vida se tornara difícil e que aguardavam um lugar na fila desde madrugada, acabam por ser atacados por um carro Mercedes, que atropela toda a gente que encontra à frente, sem dó nem piedade. O carro, claro, tinha sido roubado e a identidade da pessoa estava escondida por uma máscara.
Um ano depois, Hodges vive uma vida simples e aborrecida, descuidada até, sem a glórias que os dias como detetive lhe traziam. Sem contar, recebe uma carta do assassino do Mercedes e isso dá-lhe uma nova vida, um propósito: descobrir quem é esse "maufeitor". Para isso conta com a ajuda de Jerome, um adolescente vizinho, e de Holly, uma mulher com perturbações psicológicas que mais parece adolescente. Por outro lado, conhecemos Brady, que é logo inicialmente exposto como o assassino, detentor de uma mente macabra e obscura, que também persegue Hodges numa tentativa de o levar ao suicídio.
Este é outro dos livros geniais de Stephen King. São mais de 400 páginas, mas o ritmo aumenta gradualmente, nunca sendo propriamente lento. Como alterna constantemente entre o ponto de vista de Hodges e de Brady, há sempre informação nova e coisas a acontecer, nunca se tornando aborrecido. É um livro que nos prende do início ao fim.
A melhor parte são as personagens. Hodges é um falso herói, que oscila entre a bondade e a ironia, o heroísmo e inércia. O tipo fechado e frio com bom coração e sentido de justiça. Brady é um psicopata, um miúdo a quem nada correu bem - depois da morte do pai, o acidente e posterior morte do irmão mais novo. Não dá para ter pena dele, apesar de o seu comportamento se "justificar" com os eventos traumáticos e doença mental e neurológica agravada. Ele tem traços de psicopatia desde a infância, pelo que vemos. Já para não falar da relação com a mãe, ideal para os amantes das teorias freudianas. É a personagem que nos irrita, nos arrepia, mas tão necessária à história como qualquer bom vilão deve ser. e deu-me gozo como leitora quase entrar na mente de um assassino.
Depois temos Jerome, um miúdo querido, inteligente e com bom humor, que acrescenta um lado emocional à história, até porque acaba por ser a ponte entre Hodges e as emoções. Por fim, no que toca às principais personagens, Holly Gibney, que é só das melhores a nível literário. É uma quarentona com ar de adolescente, cheia de medos e inseguranças, de manias e de obsessões compulsivas, de ansiedade e de ataques de pânico. Não tem jeito para lidar com pessoas e acaba mesmo por ter um lado antisocial, mas é perspicaz e atenta, com talento para a informática. É uma caixa de surpresas e tanto no livro como na série é capaz de surpreender toda a gente. Tenho ainda a dizer, na minha opinião, que a Holly da série Sr. Mercedes é ainda mais forte do que a Holly em Outsider (sendo interpretadas por atrizes diferentes).
É um livro negro e macabro, como muitos do Stephen King. Não aconselho aos mais sensíveis, aqueles que ficam demasiado impressionados com descrições vivas de cenas fortes. Há descrições fortes de várias mortes, por envenenamento ou explosão. Macabro é mesmo a palavra certa, mas sem nunca cair no exagero e sem que o livro perca o realismo.
A leitura é simples e fluída, pelo que é muito fácil entrar na trama e interiorizar esta parte do universo de King.
O final do livro acaba por ser rápido, o que é bom para cativar ter um desfecho, mas não faz jus à história elaborada. Foi demasiado fácil (SPOILER ALERT) chegarem à conclusão de quem é Brady, assim como foi da descoberta do disfarce de Brady, terminando com rapidez a história. O seu destino é deixado em aberto, servindo de ponte para os próximos livros, já que ainda temos "Perdido e Achado" e "Fim de Turno".
Acrescento que a série televisiva foi muito fiel ao livro, pelo menos no que a este diz respeito. Arrisco a dizer que quem gostou de um vai gostar de outro. E vale a pena também espreitar o Outsider, já que os se cruzam um pouco.
Quanto ao segundo livro, vou ler de certeza, não fosse eu fã do autor. No entanto, não o vou fazer com curiosidade para ver como continua, pois acho que a história vai ser diferente. Apesar disso, tendo em conta que o melhor são as personagens, se permanecerem as mesmas (penso que sim) já valerá a pena.
Gostaram do livro? E da série?
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