How to Get Away with Murder | Como defender uma series finale

How to Get Away with Murder foi uma série que depressa nos conquistou, seja pela trama e pelo dedo mágico de Shonda Rhimes, seja por ter na frente Viola Davis, uma protagonista fantástica. A série chegou ao fim, depois de seis temporadas. Será que este episódio se defendeu enquanto series finale?

Já todos sabemos como começou. Uma advogada ambiciosa e profissional, das melhores no ramo, dá aulas de Direito na Faculdade e começa a sua cadeira com a questão: Como defender um assassino? Bem, na verdade, se quisermos uma tradução mais literal, seria: como sair impune de um assassinato? Annalise Keating é essa professora, que inspira e influencia os seus alunos. De tal modo que ao escolher os alunos que iriam trabalhar com ela, não pensou que acabassem por se envolver todos numa trama de assassinato. E assim, junto com Wes, Asher, Laurel, Michaela e Connor começam uma série viciante, que nos fala de drama e de justiça.

A série começou de forma muito envolvente, com personagens que se foram tornando cada vez mais sólidas com o passado do tempo. O grupo de amigos e estudantes acaba por se tornar unido, apesar de não ser pelos melhores motivos. Vamos criando empatia com eles, com a forma como se defendem e com a forma como Annalise defende as suas causas.Há muito mistério e vários plot twist que funcionam bem nas primeiras temporadas, deixando-nos agarrados. Vamos descobrindo que não só o presente das personagens é mirabolante, cada uma tem um passado penoso. Principalmente Annalise, que sofreu abusos enquanto criança, aprende que é difícil ser uma mulher negra bem sucedida, perde um bebé na gravidez e vê o seu casamento piorar dia após dia.

Confesso que, mesmo adorando as primeiras temporadas, as seguintes tornaram-se aborrecidas. Descobrindo a fórmula do sucesso, os produtores pensavam que bastava repetir a mesma. Então, acabávamos por ter sempre o seguinte rumo: morte de alguém, pistas sobre o assassinato, pessoas que são implicadas, drama pessoal à mistura, descoberta escandalosa sobre esse homicídio. Ao fim de algum tempo, deixa de tornar, torna-se repetitivo e exaustivo. A drama fica muito extensa e as personagens perdem a leveza. Pelo menos na minha opinião.

No entanto, penso que How to Get Away with Murder se redimiu e a última temporada serviu para mostrar a qualidade da série. Com certeza, deixará saudades!

Para isso muito conta a interpretação de quase todos os autores, pois o elenco era fantástico. É claro, mais uma vez destaque para Viola Davis que mostrou ser uma das atrizes que melhor sabe dominar as câmaras nos tempos atuais! Não fosse ela ter levado imensos prémios...

A partir daqui (sim, desta palavra), não leiam se ainda não viram tudo! SPOILER ALERT

Depois de mil e uma mortes, das quais Annalise foi acusada, parece que temos um novelo de lã bem emaranhado. Tudo começou por um ato de defesa dos seus estudantes, daquele grupo de amigos que nos deixará saudades, mas transformou-se em encobrimentos, mentiras e ilegalidades. Agora o FBI acusa Annalise destes assassinatos, desde Sam (o marido) até Asher, o estudante que amava Michaela e cuja morte me despedaçou o coração. Lembram-se como começou por ser um jovem irritante? Pois, ele cresceu e é agora divertido. Ou melhor, morto. No meio estão várias mortes, das quais Annalise não foi diretamente responsável por nenhuma.

Isso é o mais triste! Annalise não é assassina, talvez um pouco criminosa na forma como usa a manipulação. Nunca teve más intenções, mas não foi um exemplo de pessoa. Os seus alunos, implicados em tudo, viram a sua vida virada do avesso.

Como resolvemos isto? FBI quer muito acusar Annalise, tendo já algumas provas. Precisam de testemunhas que a incriminem, pelo que dá a volta ao grupo. Com acordos de redução de pena de prisão, ou de imunidade, o grupo, até então tão unido, é desfeito.

A temporada começa por nos dar um flashfoward daquilo que vai acontecer: Annalise morta, o seu funeral e Wes (afinal está vivo?!) a assistir. Já sabemos que não podemos confiar no que esta série mostra, mas ficamos curiosos!

Ora, com todas as acusações, vemos que Annalise foge, elaborando um plano. Aí pensamos, será que afinal ela planeou a própria morte? Pelo menos eu fiquei na dúvida. Mas depois ela acaba por mudar de ideias e preferir ter um julgamento. Logo, a morte fica sem explicação e temos mesmo que esperar pelo fim.

Laurel, até então desaparecida, afinal estava bem e é uma das testemunhas que o FBI conseguiu. Michaela e Connor juntam-se, aceitando depor contra Annalise. O grupo, agora muito pequeno, fica debilitado. Annalise vê todos contra ela, podendo contar apenas com Bonnie e Frank. E Tegan, que a defende com garra. Nate, ex-amante de Annalise, é outra pessoa que o FBI conseguiu. Pobre mulher, quase sozinha.

Mesmo dentro do grupo de estudantes as desigualdades começam a aparecer, com uns a conseguir acordos melhores que outros, o que gera discórdia.

No fim, Annalise consegue informação valiosa e algumas pessoas voltam para o seu lado. O veredito do júri chega e ela é considerada inocente. Frank tem outro momento impulsivo e, num tiroteio, acaba por morrer, assim como Bonnie, que leva com uma bala no meio da confusão. Foi um momento tão triste, pois não mereciam!

Foi um fim, para mim, agridoce. Por um lado, cada um tem o fim que pretendia, com um pouco de justiça considerando as opções. Por outro, a união desaparece por completo e o grupo de amigos que tanto nos inspirava é desfeito, Annalise acaba sozinha.

E o funeral? Bem, afinal aconteceu com Annalise já bem velha, "no seu tempo". Tem a visita de todos (bem, menos Michaela) de cabelos brancos, uma caricatura exagerada. Então e Wes? não está vivo, tratando-se da versão adulta do seu filho. Foi bonito como ele se transformou num professor de Direito, influenciado também por Annalise.

Foi um final satisfatório que responde a tudo, mas fica sempre a sensação de que poderia ter dado para mais. Queria saber o que foi feito de Annalise, depois do julgamento e da morte dos seus amigos. Queria saber o que foi feito de Connor e como salvou o seu casamento. Queria um fim mais longo, com mais detalhes. Mas depois do momento surpreendente em que descobrimos que o funeral, o momento para o qual nos preparamos a temporada toda, não era nada do que pensávamos, tudo se perdoa. Ficamos boquiabertos e rendidos à genialidade da série!

Sim, o episódio defendeu o fim da série! Sim, vou ter saudades!