Depois de deixar todas as séries em dia durante o confinamento, foi hora de procurar algo diferente para ver. Já há algum tempo que sentia curiosidade em ver "Black Mirror", uma série que me parecia forte e de grande impacto. Após várias recomendações ao longo do tempo, chegara a oportunidade de a ver.
A verdade é que depois de começar foi difícil parar...
Alerta SPOILER: Tendo em conta que os episódios não são recentes, poderá conter alguns spoilers nesta opinião.
Black Mirror é uma série de ficção científica que já conta com cinco temporadas, apesar de cada uma ter um número reduzido de episódios. Cada episódio apresenta uma história diferente, embora todos eles tenham em comum, além do estilo, o foco na tecnologia e no modo como os seus avanços transformam o mundo em que vivemos e a sociedade.
Existem conceitos de tecnologia impressionantes, desde projetores de consciência a aparelhos que projetam as nossas memórias. Desde aplicações que permitem classificar pessoas e utilizar a classificação como saldo e património, até aparelhos que comandam toda a nossa vida amorosa. É difícil de explicar os episódios devido à sua complexidade e variedade, pelo que simplesmente recomendo que os vejam!
De qualquer forma, há um elemento comum: a tecnologia é avançada e tem criações que nos espantam, mas, ao mesmo tempo, leva-nos a refletir em tudo o que pode correr mal com os seus avanços e a forma como altera a humanidade. Estaremos a ficar demasiado computorizados? Será que também estamos programados?
Esta é uma série obscura que tem mesmo como objetivo não deixar ninguém indiferente. Não é uma série para alguém que procura algo leve para ver, uns episódios para relaxar a mente. Há tensão em quase todos os episódios, principalmente nas primeiras temporadas. Há emoções demasiado fortes e mensagens para refletir. Há moral da história e há coisas nas entrelinhas do guião. Mais uma vez, é preciso ver para compreender.
Apenas posso adiantar que a série está muito bem pensada, fugindo completamente ao convencional. Tem boas representações, mas sobretudo um excelente argumento. É claro, tem episódios menos bons (nenhum mau, na minha modesta opinião), demasiado longos e de menos impacto. Mas tem outros...
Quais os meus preferidos? Ainda não sei. Talvez o último da primeira temporada, "The Entire History of You", pelo conceito de conseguirmos aceder às nossas memórias e projetar as mesmas, podendo até partilhá-las. Gosto de tudo o que seja relacionado com memórias e, apesar de não correr muito bem, achei interessante."White Bear" também está no meu top, por ser mais obscuro, ter um final completamente surpreendente e ser tão paranoico que chega a parecer um filme de terror!
"Nosedive" por ser incrivelmente atual e adequado (mesmo que seja de 2016), valendo até indicações a prémios. Num mundo em que todos dependem das redes sociais e querem ser influencers, este episódio relembra-nos a importância de não depender de aparências e da opiniões dos outros, de simplesmente sermos nós próprios para não cairmos no erro de ficarmos vazios. Também tenho que falar de "Arkangel" pois lembrou-me muita da minha formação base, sobre crianças e suas famílias, lançando um bom debate sobre a liberdade e a educação, assim como a necessidade de sentir emoções, medo incluído.
Enfim, poderia ficar aqui a falar sobre todos eles e nunca mais acabava o texto...
Esta série não é para todos, aviso. Se procuram algo leve para ir vendo sem pensar muito, não é Black Mirror a melhor escolha. Se querem algo para analisar e digerir durante um tempo, mesmo depois de ver, então sim. Se não se importam de ficar a remoer nos episódios e ficar tensos, ansiosos pelo final, é esta série. Se, como eu, adoram voltar atrás para ver aquelas frases do guião espetaculares, vejam Black Mirror.
Bem, já deu para perceber que adoro a série?
Acrescento que além destes episódios temos um especial de Natal, que segue a mesma linha e vale a pena ver, assim como um filme interativo disponível na Netflix. O filme também vale a pena, não tanto pela interatividade, como esperava, mas mais pela história em si: pela paranoia, pela ideia de ser controlado por alguém e pelo conceito de realidades alternativas. Relembra um pouco a teoria do efeito borboleta, em que todas as nossas escolhas têm influência no que nos rodeia. E também me fez lembrar o livro "Matéria Escura", de Blake Crouch, que também gostei muito.
Enfim, uma boa série e nada superficial. Das melhores coisas que vi nos últimos tempos. É verdade que as últimas temporadas foram perdendo a tensão característica e o impacto. No entanto, nunca deixa de ter qualidade. Aguardamos uma nova temporada, o que não sabemos quando irá acontecer, mas não será tão cedo.
A espera certamente irá valer a pena, pois uma série tão bem escrita e pensada não se encontra assim tão facilmente.
Capaz de criar reflexão em cada episódio, lança um novo olhar sobre a humanidade, como se, no meio de tanta tecnologia e dos seus perigos, a pudéssemos ver através de um espelho obscuro, e observar que estamos a um passo do exagero, do letal. Enfim, não é nada que não se saiba mas há, em muitos episódios, uma forma original de pensar sobre o assunto, num entretenimento que é ficção à séria ou a sério.
Não conhecem a série? Vejam o trailer da primeira temporada:
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