A maior parte das pessoas já teve contacto com a história de "A Maldição de Hill House", seja pelo livro ou pelas suas muitas adaptações. Depois de ser escrito em 1959, o livro foi adaptado aos ecrãs em 1963, com The Haunting. Confesso que não vi essa adaptação mais antiga, mas não perdi a versão de 1999. Recentemente, foi realizada ainda outra adaptação pela Netflix com uma série homónima ao livro, que se tornou viral.
São todos diferentes, cada um com a sua perspetiva da história do livro. Assim, porque não analisar a fonte, o livro que originou tudo isto?
No meu caso, como cheguei à leitura? The Haunting of Hill House foi das séries mais divulgadas pela Netflix. Um tesouro a nível de séries de terror, com um bom argumento, capaz de agarrar os espectadores e alguns sustos à mistura. Falei sobre ela aqui e agora tenho muita curiosidade em ver a segunda temporada, embora (e felizmente) a história seja diferente, baseada noutro livro (já na estante!) e noutra série. Algum tempo depois comprei o livro, apesar de já estar avisada que são muito diferentes. Iniciando agora a leitura, fui ainda ver o filme de 1999 para me integrar numa nova versão. Fiquei contente por me lembrar mais ou menos de já o ter visto em pequena, já que aquela cena de Eleanor no quarto é icónica! É claro, mesmo o filme é muito diferente do livro.
Bem, vamos lá então falar sobre o livro em si!
Dr. Montague é um académico que quer estudar cientificamente os fenómenos paranormais. Nada melhor para isso do que a mansão Hill House, uma casa conhecida por ser assombrada. Aquela cujo aspecto físico nos é logo apresentado como horrendo e malvado. A casa parecia estar à espera de algo.
O Dr. Montague convida então algumas pessoas para o assistirem neste estudo, acompanhando-o no verão. A primeira a chegar é Eleanor, uma rapariga sensível, que roubou o carro à irmã para poder ir e que enfrentou o luto pela mãe, cuidando dela até à morte, de uma forma que a marcou. De seguida, chega Theodora, outra convidada que logo trava fortes vínculos com Eleanor (ou Nell). Por último, surge Dr. Montague com Luke, sendo este convidado imposto pelos donos da casa, que impuseram como condição para aluguer que um herdeiro da casa lá estivesse.
Então, o que pudemos esperar de uma casa cuja fama é tão má, capaz de fazer com a toda a população da aldeia lá perto evite falar nela e desconsidere quem lá vai? O que dizer de um lugar construído para provocar sensações em quem entra, uma casa enorme com uma torre misteriosa, com cada ângulo pensado para dar uma visão disforme, desnivelada e com divisões que nunca mais acabam. Há maldade na casa e a sua descrição é realizada com certo exagero para termos essa noção, para ficarmos a espera que ela se revele (e se rebele), sabendo nós que ela própria está à espera de alguém. Não vou mentir, sem imagens é complicado imaginar todos os pormenores da casa, das estátuas até aos detalhes das paredes e divisões. Sobretudo se pensarmos que o livro foi escrito em 1959 e tudo era diferente: das decorações aos diálogos.
Inicialmente, a estadia dos quatro parece acolhedora, com momentos de descontração, mas depressa coisas estranhas começam a acontecer, como mensagens escritas nas paredes ou a casa a fazer barulhos. Ao contrário dos filmes e série que são explícitos quanto à manifestação de atividades sobrenaturais, este livro não é tão direto, o que acaba por nos deixar a pensar e nos fazer duvidar no fim. Penso que esta acaba por ser a melhor parte, a complexidade que é conferida a Nell. Começamos por gostar dela, a mulher sofrida que merece uma vida melhor e uma segunda oportunidade. Que vê a casa como um espaço acolhedor onde pode quase ter uma nova família. Ela acaba por ser consumida pela casa e os seus atos tornam-se questionáveis. Num fim inesperado, somos levados a perguntar: será que tudo o que lemos não passa da imaginação de Nell? Afinal, vimos sempre o livro pelo prisma de Eleanor e nunca vimos uma manifestação literal do sobrenatural que não pudesse ser justificada pela sua loucura. Será...?
Assim, estamos perante um livro simples, com uma linguagem nada rebuscada para a época. A autora fez um belíssimo trabalho e fiquei com curiosidade para ler outros livros seus. No entanto, o livro acaba por provar que as personagens são um pouco fracas e acabei por não sentir empatia por nenhuma.
Não deixa de ser uma leitura prazerosa!
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