Mais uma vez, a Bertrand fez os fãs de Stephen King felizes com a publicação de mais um livro do autor. Desta vez, falamos de "A História de Lisey", um livro de bolso lançado pela chancela 11x17 no mês passado. Esta opinião contou com o apoio da editora, que nos cedeu um exemplar. Aqui fica a sinopse do livro: "Há dois anos que Lisey perdeu o marido, Scott Landon, um romancista premiado e bem-sucedido, mas com uma personalidade muito complicada. Logo no início da sua relação, descobriu que havia um sítio para onde Scott ia - um sítio que o aterrorizava e o regenerava ao mesmo tempo, um local que podia consumi-lo ou dar-lhe as ideias de que precisava para viver. Durante os vinte e cinco anos em que estiveram casados, Lisey conviveu com os fantasmas que o atormentavam mas, agora que o marido morreu, cabe-lhe a ela enfrentar os demónios de Scott. E o que começa por ser o esforço de uma viúva para organizar os trabalhos deixados pelo seu famoso marido depressa se transforma numa perigosa viagem às trevas em que ele vivia."
Podem ver mais informações sobre o livro aqui.
Apesar de ser um livro escrito pelo mestre do terror, não se enganem. Esta é uma história sobre o amor. Mas também é uma história sobre o luto e a perda, sobre a imaginação e sobre os nossos maiores medos, sobre a humanidade.
Lisey Landon é a personagem principal, a viúva de Scott Landon, um escritor de sucesso. Depois da morte do marido, cabe a Lisey a árdua tarefa de organizar tudo o que ele deixou, incluindo o escritório com manuscritos não publicados e muito desejados no mundo da literatura. Ao longo das suas 672 páginas, o livro demonstra que Scott não era um simples escritor, mas sim um homem sensível que enfrentou os maiores pesadelos do mundo. Agora cabe a Lisey enfrentar esses pesadelos num mundo imaginário mas que é bem real, onde a coisa-ruim está de olho em toda a gente.
Tenho a dizer que este é um livro muito diferente do estilo habitual de Stephen King. O seu estilo de escrita permanece, mas a história em si não se foca tanto no suspense. Há alguns momentos de terror quando o monstro/ coisa-ruim é mencionada, mas também há romance. Sendo um livro com dimensões generosas, sinto que em algumas partes o foco da história ia sendo perdido ou então chegava mesmo a parecer repetitivo. Sim, acho que se fosse um pouco mais reduzido não perderia a sua essência e seria mais fácil manter a atenção na história.
No entanto, adoro a menagem que o livro passa. Ou melhor, as várias mensagens. Lisey começa por parecer uma mulher num plano secundário, a companheira do grande escritor. No entanto, vai-se revelando cada vez mais corajosa e inteligente, transformando-se numa heroína feminina. Depois, claro, temos toda a trama em torno do amor e do luto. Stephen King tratou do tema de uma forma brilhante!
Por fim, como pessoa que gosta de escrever, adorei a analogia do lago onde todos vamos beber. Sim, acho que este livro nos fala de imaginação e inspiração. E penso que todos nós temos a nossa própria Boo'ya Moon, um local de fantasia onde nos transportamos para sair deste mundo físico, um sítio na nossa mente onde moram todos os nossos medos, assim como tudo o que mais gostamos. Esse mundo que é só nosso também inclui o lago onde todos vamos beber, um lago único para cada um mas comum a todos, e que nos serve de inspiração. Enfim, uma ideia complexa e fantástica que só Stephen King conseguiria colocar de forma tão maravilhosa num livro.
Concluindo, este pode não ser o meu livro preferido do autor, nem perto, mas está cheio de ideias complexas e de analogias interessantes que é impossível não nos identificarmos com ele! Já para não falar da personagem de Scott, com uma infância tão atribulada e triste que é impossível não sentir empatia. Aliás, penso que estas partes sobre a sua infância eram as minhas preferidas, sendo as mais carregadas de emoção. Afinal, a coisa-ruim nem sempre é um monstro mitológico, por vezes está apenas dentro das pessoas, e nem sempre as pessoas são boas ou más, ou nem sempre o amor é tão linear como se pensa.
Já alguém leu este livro?