Este ano vamos começando bem em termos de leituras, com O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares, de Ransom Riggs. Vi o filme quando foi lançado (e em 3D!) e fiquei muito curiosa para ler o livro. Gostei imenso do filme, era todo um mundo peculiar acentuado pela excelente visão de Tim Burton. Não escondo que o adoro e os seus filmes são sempre espetaculares. Não foi o seu melhor, mas em O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares vemos um trabalho de caracterização e fotografia fantásticos.
Como seria, então, o livro?
Este livro fala-nos sobre o jovem Jacob, cuja vida é completamente normal e vulgar, aborrecida até. Com uma família muito ligada ao dinheiro e ao material, Jacob é chegado ao seu avô que muito cedo foi abandonado pela família e acabou por ir parar à casa de acolhimento da Senhora Peregrine, um lar que alberga crianças órfãs e refugiadas da II Guerra Mundial. No entanto, o seu avô sempre se mostrou heróico, contando a Jacob histórias sobre crianças peculiares diferentes de todas as outras - invisíveis, capazes de levantar pesos enormes, que flutuam, etc -, além de grandes monstros invisíveis que ele combatia. À medida que crescia, Jacob foi deixando de acreditar neste mundo fantástico, mas quando o seu avô morre o seu lado lógico é desafiado novamente e ele parte à procura desse lar incrível que o avô tanto lhe falara. Quando lá chega, depara-se com uma nova realidade, mas também com grandes perigos.
Este é um livro que combina um pouco da realidade histórica com a realidade atual e com muita fantasia, o que por si só não deve ser nada fácil. Ransom Riggs fez um excelente trabalho em equilibrar os três mundos, facilitando a tarefa do leitor de se embrenhar num mundo completamente diferente e imaginário. As personagens estão bem construídas e, às páginas tantas, damos por nós apaixonados por elas, a torcer elo Jacob e por cada um dos meninos peculiares.
Outra das coisas que gosto no livro é o sentido de humor. Claro, temos a fantasia, o drama e mesmo o romance adolescente de Jacob e Emma. Mas o humor é a cereja no topo do bolo, fazendo com que o livro ganhe um carácter especial. Dei algumas gargalhadas nesta leitura.
No entanto, há uma coisa que torna esta coleção (ou pelo menoso primeiro livro, o único que li até agora) completamente diferente das outras. Ransom Riggs escreve a partir de uma coleção de fotografias, todas elas peculiares. Estas fotografias são bem reais, mas transportam-nos sempre para o mundo imaginário que o autor cria, sendo perfeitas para ilustrar a história. Achei esta ideia genial!
É claro, existem algumas diferenças entre o filme e o livro. São dois mundos completamente fantásticos, cada um à sua maneira. Não sei dizer qual o melhor! A grande diferença está em Emma, cujas habilidades são diferentes no livro e no filme. Enfim, penso que não são diferenças substanciais que mudem muita coisa.
Depois, claro que temos todas as reflexões que este livro provoca. A primeira delas, a idade. Estas crianças têm já várias décadas, visto que estão exiladas num único dia que se reinicia num dia durante a II Guerra Mundial, o que faz com que o contacto com a atualidade esteja restringido apenas a algumas horas, ou envelheceriam todos os anos que já passaram de uma vez só. Falamos, assim, de crianças que vivem sempre o mesmo dia, apesar de o fazerem de maneiras diferentes, e que não envelhecem muito embora já tenha sessenta anos ou mais. Serão eternas crianças ou apenas idosos em corpos de crianças?
Penso que, nesta questão, o livro dá a parecer que se tratam, de facto, de crianças com alguma sabedoria, mas são sempre crianças. Agem, brincam, comportam-se e pensam como crianças. Mas é realmente uma boa questão que gostaria que fosse um pouco mais explorada.
Por fim, a peculiaridade. Estas crianças têm algo que as torna diferente daquilo que é mundano, vulgar e aborrecido. Têm alguma característica única que as torna capazes de atravessar aquele portal e fazer parte de um Lar, todo ele peculiar. São seres únicos. O que levanta a questão: não seremos todos nós únicos e peculiares? De todas as vezes em que nos concentrámos no que é mais próximo do imaginário, das vezes em que tentamos ver o invisível, em que fechamos os olhos ao quotidiano para vermos as singularidades de uma dia que parece completamente igual aos anteriores, em que nos aproximamos mais da nossa infância e do ser criança... Poderemos assim ser peculiares? O que acham?
Resumindo, achei o livro muito bom! Ransom Riggs criou algo completamente diferente pela singularidade com que o fez. Estou muito curiosa para ler os próximos livros, que não estão na minha prateleira mas espera que venham a estar... E, já agora, espero também um próximo livro!
E vocês?