Desta vez, a minha leitura teve como alvo "As Gémeas do Gelo", de S. K. Tremayne. A obra promete ser um thriller arrepiante, acabando por o cumprir. De facto, é um livro super entusiasmante, que nos faz querer ler mais a cada página, tamanho é o mistério e as surpresas!
Mas comecemos pelo início, ou seja, pela história.
Os Moorcroft são um casal feliz, com tudo aquilo a que têm direito, uma vida boa, incluindo duas filhas gémeas idênticas, lindas e felizes. Aos 6 anos, a vida de Lydia e Kirstie muda completamente, assim como a dos pais, quando Lydia morre acidentalmente, caindo de uma varanda. A mãe das gémeas envolve-se numa depressão devido ao luto e o pai começa a revelar problemas de alcoolismo e temperamento agressivo, sendo despedido.
Como forma de recomeçar do zero e salvar a família, os pais mudam-se para uma ilha escocesa, com Kirstie, um ano depois. No entanto, nada parece melhorar.
A verdade é que a morte de uma das gémeas não foi a única coisa a fraturar a família, a confiança entre os pais é cada vez menor e todos parecem afastar-se. E tudo piora quando a filha sobrevivente afirma ser Lydia e não Kirstie, tendo sido esta última a morrer.
É então que começamos a entrar na mente das personagens, tentando perceber se a gémea diz a verdade ou se está apenas confusa relativamente à sua identidade visto a grande aproximação que sempre teve à irmã. Além disso, Lydia afirma ver o fantasma da irmã, conversando ou brincando com Kirstie, o que afasta as outras crianças e a torna triste e solitária.
O livro desenvolve-se maioritariamente sob o ponto de vista da mãe das gémeas, que procura saber a verdade durante todo o desenvolvimento, de forma a proteger a filha que lhe resta. É assim que nos aproximamos mais dela e desenvolvemos a empatia. No entanto, há partes em que o pai das gémeas assume a narração, demonstrando um ponto de vista completamente diferente, fazendo-nos pensar.
A verdade é o autor soube exatamente como fazer para manter o suspense até ao fim, prendendo os leitores. A cada página, as questões e as dúvidas aumentavam. Sempre que pensávamos estar a chegar a uma verdade, criando conclusões, essa verdade é abalada e percebemos que ainda não sabemos de nada. Apenas no fim tudo é revelado, sendo talvez por isso que esse tudo nos sabe a pouco.
No entanto, esta é uma história muito emotiva, que nos fala sobre o luto de uma forma que nem devia existir - o luto por uma criança, um filho. É uma historia de amor e de família, mas também de culpa. É por isto que é triste. E depois temos toda a temática das gémeas idênticas, muito complexa e fascinante.
A somar ao enredo, temos uma paisagem incrível. O autor faz um ótimo trabalho com a descrição da ilha, que é ao mesmo tempo sórdida e linda, medonha e incrível. Em termos de imaginação cria um efeito fantástico, sendo que as fotografias que acompanham o livro são a cereja em cima do bolo. No entanto, às vezes tornou-se cansativo para mim tanta descrição, principalmente quando queria mais desenvolvimentos sobre a história.
O final deixa qualquer um de queixo caído. De muitos desfechos, não previa aquele. Não foi fantástico, mas foi certamente imprevisível. Infelizmente também não foi um final feliz e cor-de-rosa. Mas foi um final adequado, trágico numa história trágica. Também foi um final muito corrido, desenvolvendo-se rapidamente e eu até tive que ler duas vezes para ter a certeza que não (me) perdia nada.
Enfim, este é um livro que recomendo mesmo, quer por ser viciante como por ser surpreendente. Espero ler mais deste autor!