Hoje trago-vos uma viagem pela ficção, num Portugal monárquico, onde muitos sonhavam com a República, da autoria de Daniela S. Antunes Rodrigues, que nos foi cedido gentilmente pela nossa parceira, a Editora Chiado. Deixo-vos, abaixo, a sinopse do livro:
"Pierre voltou a sentar-se e bebeu, qual insano que se tinha esquecido que era. Um trago pelo irmão, que não sabia onde andava, um pela cunhada, um pelo sobrinho e pela esposa, um pela sobrinha, e outro pela sua amada. Não, não, cospe o último que está errado. Tinha sono, o dia tinha escurecido. Que dilemas tinha ele criado, tinha imaginado para explicar tudo aquilo que o rodeava. Lá existia dilema algum, era a crua realidade que fazia a sua entrada no corpo dormente de Pierre. Não há explicação, não há razão que dê sentido à realidade dos outros. Nem à sua, por mais que quisesse. Quando é que, subitamente, deixou de ser aquele que impingia a preocupação e a dor, e passou a sofrer dessas maleitas? (…)
O isolamento era uma bênção que concedia a si próprio, para se poupar a tais tormentas. As palavras que partilhava com os outros encerravam em si um chiste que o agraciava. Estava desperto, e a consciência não se identificava com nada do que via. Não é tal coisa, a loucura? Inadequação de um indivíduo para a vivência social e para as instituições estabelecidas. Oh, se assim fosse, era demente, era excêntrico com orgulho. Não há escapatória, não há fuga possível, e essa claustrofobia leva à clausura. Sim, que aqueles que são enfiados numa qualquer cela já estão, há muito tempo, presos em si próprios. Como sair de dentro de si? Rasgar o peito, deitar para fora as entranhas, morrer, e esperar que haja fuga para a alma, se existir. Haverá escolha, então?"
Podem adquirir o livro no site da Chiado e descobrir quando podem ver a autora e outras novidades na sua página de Facebook.
O livro conta a história e os dramas que se passam entre as famílias Jacques e Melo, principalmente entre Pierre Jacques e Carlota Melo, que parecem quase antagónicas. Carlota é doce, bem educada, com grandes sonhos de acompanhar Jean Claude, o seu prometido noivo, nas suas viagens e sentar-se a seu lado como a sua inteligente e bem letrada esposa. Já Pierre é amargo, resmungão, sarcástico, com pouca afinidade por pessoas no geral, desarrumado e com claros problemas de álcool. No entanto, estas duas personagens partilham uma curiosidade e uma sede comum por conhecimento, pela inteligência, e cansam-se facilmente dos ares cínicos e fúteis da sociedade monárquica.
Daniela conta-nos também a história de Albert Jacques (irmão de Pierre) e Beatriz, a sua mulher, e do seu único filho, Henrique, um rapaz mimado e irresponsável, com uma grande vontade de ir contra tudo o que a mãe lhe diz e espera dele.
Os sonhos de Carlota cruzam-se com a arrogância de Pierre quando esta se muda para casa do Jacques para que ele a ensine, faça dela a mulher que ela quer ser para o seu marido. Esta é a premissa inicial do livro, que, na minha opinião, se vai desvanecendo ao longo do livro, após ser revelado a Carlota que seu pai morreu. A partir deste ponto, O Ano Francês é repleto de adultério, drama, bebida, romance e algumas reviravoltas que me deixaram deveras surpreendida. No entanto, no fim, continuamos sem saber quem matou Manuel, o que será de Carlota quando se casar e como viverá Pierre com este casamento.
Ao ler esta obra, fui achando que toda a caracterização excessiva das personagens e as longas descrições tornaram a leitura um pouco pesada, pelo menos para mim. No entanto, os últimos 4 capítulos foram completamente diferentes, com peripécias e respostas a algumas das perguntas que se vão levantando nas páginas anteriores.
No geral, é uma obra que vale a pena ler, quanto mais não seja para poder ler a sequela, que me parece vir a acontecer, quiçá ;)