Mais vale tarde do que nunca, por isso finalmente li o livro de Paula Kawkins, “A Rapariga no Comboio”. Depois do sucesso que foi, seguindo-se um filme igualmente bem acolhido, não há leitor que não tenha ficado com curiosidade. Adorei o filme e tenho a dizer que gostei mais ainda do livro.
Duvido que exista uma alminha que não conheça a história, mas “A Rapariga no Comboio” fala-nos de Rachel, uma mulher a atravessar um período obscuro depois de um divórcio complicado devido à infidelidade do marido, Tom, e ao facto de ela ainda gostar dele, o que agrava o seu problema de alcoolismo. Também conta a história de Anna, que era amante de Tom e agora é sua mulher e mãe da sua filha. Por último, o livro conta-nos a história de Megan, que foi babysitter desta bebé e que acaba desaparecida, lançando o grande mistério do livro. Megan, vizinha de Tom e Anna, era uma mulher que ocupava o imaginário de Rachel pois ela via-a através das janelas do comboio quando fazia a mesma viagem todos os dias, imaginando como seria a sua vida. Ela desaparece na mesma noite em que Rachel, perdida de bêbeda, se mete em apuros e acaba por não se recordava de praticamente nada do que fez nessa noite, ficando apenas com a sensação de que algo horrível tinha acontecido. Estariam as duas coisas relacionadas? Rachel começa a investigar à procura de respostas, mas apenas se coloca em perigo ao ver-se sozinha pois ninguém acredita nela. Pronto, sem mais revelações, vejam o resto, vale mesmo a pena!
Não sei se já o disse aqui, mas adoro thrillers. Adoro a sensação de não saber o que se passa até ao último momento, completar a história página a página como se de um puzzle se tratasse, tentar adivinhar o que aconteceu e criar teorias, sentir o ritmo da leitura a aumentar com o tempo. Sim, é o meu género preferido. Portanto, não tem como não ter gostado do livro. E é difícil encontrar alguém que não o tenha feito.
Temos três grandes personagens femininas: Rachel, Megan e Anna. Todas elas têm algo em comum, todas são muito realistas apesar de estarem muito longe da perfeição. Não são as típicas moças boas dos livros, são até defeituosas. E isso torna tudo mais interessante. A Rachel acaba por ser mesmo chata e irritante, sempre a cair na tentação da bebida e, pior ainda, de implorar o amor do ex-marido. Insegura e dependente. No entanto, é impossível não a adorar e compreender que teve razões para se arrastar tão para lá do fundo do poço. Ela é bondosa e persistente. Cria uma empatia imediata. E também acabei por gostar muito da Megan, ao contrário do que aconteceu nos livros, pelo seu divertido e aventureiro. Mas também por compreender a sua complexidade. Sim, ela tinha imensos defeitos e não era nada boa pessoa, ou pelo menos boa mulher, mas não mereceu o seu final. Já Anna foi a personagem por quem senti menos empatia. Talvez por ser a menos explorada inicialmente, ou por ser aborrecida como tudo, sempre a pensar no Tom como um Todo-Poderoso, vivendo exclusivamente para ser mãe e mulher. E afinal estava apenas insegura, temendo que Rachel, embriagada ou não, lhe tirasse o lugar. Gostava apenas do amor que ela tinha pela filha, e confesso que gostei dela nas últimas páginas, mas só um bocadinho.
No início o livro é um pouco confuso, apesar de tudo estar muito claro na minha mente pois já tinha visto o filme. Tudo se vai juntando e vamos acabando por perceber toda a trama. Os segredos são descortinados e não é difícil imaginar claramente o desenrolar da história na nossa mente. As diferenças relativamente ao filme são muito poucas, mais relativas ao Scott, marido da Megan, pois explora um pouco mais a relação dele com a mulher e Rachel, e também algumas relativas a Tom, que no livro não se dá com a família.
Não há outra forma de descrever o livro se não absolutamente magnífico, capaz de nos surpreender até à última página. Recomendo imenso a quem ainda não o leu e não mal posso esperar para ler a próxima obra de Paula Hawkins.