Diz-me o que vês quando me olhas
Porque nada do que vês é o que sou
Como um céu infinito, imensa escuridão,
Estrelas incontáveis que a galáxia quebrou
E são pedaços de alma numa vastidão
Diz-me se vês um espelho ao olhar-me
Porque talvez seja por isso que te vejo
Um outro planeta, num espaço inalcançável
Uma presença suave como um beijo
Partilhando estrelas, uma incerteza inabalável
Porque fechas os olhos quando me olhas?
Há partes de mim que não são visíveis a olho nu
Estrelas microscópicas num poço profundo
Talvez quem tenha razão sejas mesmo tu,
Que fechas os olhos para observar o mundo
Pensas, contudo, que me lês quando me olhas
Não sabendo que estou escrita n’outra linguagem
Caracteres especiais, astronomia do mistério
Ora a calma do mar, ora um furacão selvagem
Cabe ao leitor escolher, para me olhar, o seu critério
Mas tudo o que possas ver quando me olhas
Não muda em nada aquilo que se inscreve em mim
Tenho todos os pedaços que nem eu conheço
E tu verás só as estrelas que eu te iluminar por fim
A complexidade é uma doença da qual padeço
Nem eu sei o que vejo quando te olho
Nem sei como te olho, com que observar
Será espelho, ilusão, sonho ou esperança
Que pedaços de ti poderei vir a decifrar
Ficarás para me ler, testando a perseverança?