Olá! Sei que tenho andado desaparecida no blog, mas hoje trago-vos um pequeno rant sobre um tópico que anda a correr as redes sociais e revistas de moda e que, se entraram numa loja da Primark recentemente, provavelmente já notaram: os novos tamanhos inclusivos.
Tal como Vítor Rodrigues Machado, da Elle Portugal, afirma “A marca tem agora uma tabela mais inclusiva e sobretudo mais real.” (Podem ler o artigo aqui). É indiscutível que as marcas de moda têm um longo caminho a percorrer quando o assunto são os tamanhos das suas peças de roupa - não será a primeira vez que, na mesma loja, uma pessoa que vista o tamanho 36 num par de calças tenha, noutro modelo, de pegar num 38 ou num 40. O que, para além de ser ridículo e completamente desnecessário, muitas vezes traz à pessoa em questão sentimentos negativos sobre o seu próprio corpo, quando na verdade, a culpa reside em cortes irrealistas e inconsistentes.
Quando li pela primeira vez este artigo da Elle Portugal, depois de já ter notado as grandes tabelas azuis espalhadas pela Primark que frequento, pensei que 2018 fosse o ano em que os tamanhos disponibilizados pela cadeia de roupa irlandesa fossem mais consistentes, melhor pensados e onde as proporções das roupas fosse equivalente aos corpos das pessoas que usam determinados números. A verdade não é, no entanto, assim tão doce. Vejam o que realmente mudou:
Imagem: © Primark.
Pois é. Agora a Primark tem números desde o 32 ao 52, o que é em si um facto fantástico, já que a maior parte das lojas de roupa nos centros comerciais parece esquecer-se que existem pessoas que vestem mais que o 44 ou 46. Mas a atenção que está a ser dada para esta mudança não é na inclusão dos tamanhos 50 e 52 na loja, mas sim na distribuição dos S e M’s. Uma mulher que use o 32/34 é agora catalogada com a etiqueta 2XS, em vez de S, e uma mulher que use um 40/42 passa a carregar às costas a etiqueta M, em vez de L.
Voltando a referenciar o artigo em questão, não é que me espanto (mas na verdade o espanto é pouco) quando vejo a seguinte frase da blogger e influencer Aline Lorenzo, que diz no seu Instagram:
«Sempre usei um 40/42 (L) e com esta mudança agora sou um M. Fico contente. E não é só um ‘consolo para tontos’ usar um número mais pequeno. É só um número, o meu corpo é o mesmo. Mas há muitas pessoas mais curvy do que eu, que estão incríveis, e não têm necessidade levar uma peça de tamanho XXXXL.” (ênfase nosso).
A questão que coloco nesta nova tabela de tamanhos mais “inclusivos” é que, de facto, as pessoas mais “curvy” e que “não têm necessidade” de “levar uma peça e tamanho XXXXL” vão continuar a levar esses tamanhos porque a mudança não foi feita para esses tamanhos. A mudança foi feita nos tamanhos até ao 44, que agora passam a ter uma letra mais “pequena” na etiqueta, porque desse tamanho para cima continua tudo igual.
Sempre usei um 46/48 na Primark, que sempre foi um tamanho XL e, mesmo com esta nova tabela, continuo a ser um XL. Não se enganem, não tenho problema nenhum com os números ou letras presentes na etiqueta. Tenho problema com o facto de uma camisa 48, nesta loja, ter o mesmo tamanho e largura nas mangas que uma camisa 44 e a parte da frente igual a uma camisa da gama de maternidade. Tenho problema com o facto de ter de fazer uma dobra nas calças, quando não tenho que cortar um grande pedaço das mesmas, porque ter ancas 48 significa ter, também, 1.80m de altura.
Sempre fiz compras na Primark e vou continuar a fazer, porque é uma das duas lojas que têm tamanhos que, na generalidade, me servem devidamente, com preços acessíveis e com uma boa seleção de estilos diferentes de roupa. Mas tenho um grande problema com o facto de esta ‘nova tabela de tamanhos, mais reais e inclusivos’ seja apenas, a meu ver, uma forma de atirar areia para os olhos dos consumidores e de perpetuar a noção que somos mais reais, mais incluídos e validados quanto menor for o tamanho na etiqueta da roupa que usamos.
A verdadeira mudança, na minha opinião, virá quando os números maiores tiverem cortes adequados aos corpos reais de quem os usa. Quando houverem tamanhos intermédios, como o 44/46 e o 48/50. Quando a diferença entre um 46 e um 48 não seja ficar sem circulação sanguínea ou vestir um saco de batatas. Quando deixarem de haver 5 tamanhos onde se trabalha a inclusividade e a realidade dos corpos (o que já de si é excelente e um ótimo passo, não achem que estou aqui apenas para criticar!) e apenas 2 tamanhos para quem é maior onde absolutamente nada muda. Se vão trabalhar a inclusividade e proporcionar tamanhos melhores e com proporções reais, façam-no para todos os tamanhos.