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Poema | Deixar-me Ir

Orquídea Polónia

Gostava de ser um balão de hélio.

De me desprender do que me agarra.

Soltar o ar. Deixar-me ir.

Gostava de ser um rádio.

Aumentar o volume ao máximo.

Gritar, libertar. Deixar-me ir.

Gostava de ser um rio.

Ir com a corrente, de forma tão natural.

Fluir, correr. Deixar-me ir.

Gostava de ser um mágico.

Tirar um coelho da cartola e fazer as coisas desaparecer. Um abracadabra à vida. Deixar-me ir.

Gostava de ser o ar.

Estar em todo o lado e em lado nenhum.

Flutuar, meras partículas. Deixar-me ir.

Gostava de ser escrita a lápis.

Poder apagar e reescrever-me.

Começar do zero ou limpar. Deixar-me ir.

Eu gostava de ser corda.

Esticar, desfazer os nós, um fio só.

Desatar. Deixar-me ir.

Gostava de ser um pássaro.

Bater as asas e voar, com destino inexistente.

Apenas existir, indo. Deixar-me ir.

Gostava de ser o impossível.

Ter a certeza de não ser real.

Inexistente. Deixar-me ir.

Gostava de ser silêncio.

Num só tom, que é tom nenhum.

Sem ruído. Deixar-me ir.

Gostava de ser o nada.

Apenas a nulidade do vazio.

Não existir. Deixar-me ir.

Gostava de ser a calma.

Sem pressa de chegar a outro lado, o lado nenhum.

Apenas fluir. Deixar-me ir.

Eu gostava de ser o universo.

Não ter início nem fim.

Infinito, permanente. Deixar-me ir.

Balão de hélio. Rádio. Rio. Mágico. Ar. Escrita a lápis.

Corda. Pássaro. Impossível. Nada. Calma. Universo.

Tanta coisa para se ser, não sendo coisa nenhuma.

Tanto para se deixar ir.

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