“Uma enorme tragédia”, dizem uns, “todos os anos a mesma coisa”, dizem outros. E é verdade, é todos os anos a mesma coisa, todos os anos os fogos assolam o terreno do nosso país, durante dias e noites a fio, populações, casas e animais são colocados em cheque por esta calamidade que poderia ser evitada muitas vezes, caso todos nós fizéssemos o nosso dever como cidadãos em contacto com a sociedade em ambiente. Quantas vezes já se criticou alguém que atirou uma beata de cigarro pela janela do seu carro e depois damos por nós a fazer o mesmo? Ou a ver lixo em espaços verdes em dias de intenso calor e mesmo assim nada fizemos porque não fomos nós que fizemos o lixo? Inúmeras. Nós não queremos saber até ser connosco, só aí sentimos na pele o que é ser solidário, só aí deixamos de ter pena e tentamos mudar, quando vemos anos de sacrifício a serem consumidos pelas chamas, onde graças ao trabalho que nós não fazemos, ao dever que não cumprimos colocamos vidas em causa, principalmente daqueles que saem de casa sem nunca saber se regressam. Tudo porquê? Porque nós não cuidamos daquilo que é nosso. A limpeza dos terrenos tem de ser obrigatória, senão iremos estar sempre a adiar, devíamos ter cuidado com o lixo que fazemos. Ao limpar, ajudamos os outros, e mais importante, ajudamos o planeta onde estamos. Ao limpar aquilo que nos pertence e ajudar a manter limpas as zonas comuns estamos a diminuir o risco de incêndio e os níveis de poluição. Mas fazemos isso? Não. É sempre mais importante fazer as homenagens vazias todos os anos, dizer que lamentamos o ocorrido e metemos publicações nas redes sociais para parecermos todos chocados com isso. Estaremos mesmo? Talvez. Mas será o suficiente? Não. É preciso agir, é preciso ver as coisas como elas são, prevenir antes que aconteça. É o mundo que está em jogo, se não queremos saber de nós, é uma coisa diferente de prejudicar os outros. Numa altura em que é necessária a união, continuamos com uma mentalidade que prejudica os outros e porquê? Só porque sim. Desde que haja o subsídio ou indemnização no fim das contas da tragédia já está tudo bem? E quando esse dinheiro acabar? Vamos esperar que um novo fogo assole e esperar que haja compensação? Já chegámos a esse ponto? Parece que sim. Já nem falo daqueles que são os próprios a causar, para quê? Qual é o gosto de ver anos tornarem-se em cinzas? Mas nós somos tão culpados quanto aqueles que atiram o fósforo. Porque não prevenimos. São questões a pensar para o que resta deste verão, e para os seguintes verões, porque o flagelo acontece a qualquer altura. Preservemos o que temos em vez te contemplar as cinzas.