Claire North, autora britânica, foi uma das presenças na Comic Con Portugal no que diz respeito à Literatura, trazida pela editora Saída de Emergência.
Catherine Webb escolheu este pseudónimo para os livros de ficção científica, tendo falado sobre a sua experiência enquanto escritora e promovido os livros publicados em Portugal, As Primeiras Quinze Vidas de Harry August e A Súbita Aparição de Hope Arden.
As Primeiras Quinze Vidas de Harry August conta-nos a história de Harry, um homem que sempre que morre regressa ao início, voltando a nascer com recordação total da vidas anteriores, revivendo a mesma vida. No entanto, ele preocupa-se relativamente à origem do seu dom e se será o único assim, tendo a resposta na décima primeira vida, aquando da notícia do fim do mundo.
Já A Súbita Aparição de Hope Arden fala sobre Hope Arden, tal como indica o título, uma rapariga que ninguém consegue recordar, sendo esquecida pelos próprios amigos e família, o que conduz ao seu desaparecimento.
A autora, que começou a escrever tinha apenas 14 anos, acabou de ganhar um Fantasy Award. Recordou com diversão o momento em que soube da notícia pois, devido à diferença de horários, estava a preparar-se para dormir e a lavar os dentes quando uma amiga a informou. Refere que o prémio alimenta o ego, mas acaba por não a mudar a ela nem ao seu trabalho, sendo que o contentamento é bom enquanto dura.
Relativamente aos vários pseudónimos que já assumiu, explica que os associa ao género que escreve, sendo que em cada fase da sua vida se encontra mais propensa para escrever diferentes coisas. Por exemplo, começou como jovem a escrever young adult, sobre as experiências que atraem os jovens, tendo passado para outro género na idade adulta.
Algo que também foi mencionado na conversa foi a distinção entre a ficção científica e os restantes géneros literários, como se este género fosse considerado inferior. Claire North afirma que essa diferença existe na UK, tendo sido confirmado que o mesmo se verifica em Portugal.
Para os fãs da autora, sobretudo para aqueles que também são amantes do mundo do cinema, temos boas notícias! Um dos seus livros será adaptado aos grandes ecrãs. Uma produtora já tem os direitos do livro, apesar de Claire ter vários convites. Sobre o receio da autora a esta adaptação, ela afirma não ter medo que tal aconteça. De facto, brincou com a situação e afirmou que, no pior dos cenários, o filme seria muito mau pelo que todos iriam considerar o livro melhor que o filme. Claire North tem consciência que, mesmo que o filme apresente uma visão diferente, os seus livros existirão sempre da mesma maneira e isso não mudará.
A autora falou, ainda, de algumas das temáticas dos seus livros e de como as mesmas nos levam a refletir sobre a humanidade. Sendo nós definidos pela nossa relação com os outros, quando não somos lembrados e não temos estas relações, quem somos nós afinal?
Aliás, uma das inspirações para o livro veio mesmo da sua profissão como técnica, que muitas vezes permite que ela se torne invisível, já que as pessoas nunca a humanizam, ou seja, não reconhecem que ali esteja outra pessoa mas sim uma profissional, apenas com funções de trabalho. Quantos de nós já não sentimos a mesma coisa?
Claire North demonstrou-se feminista, sublinhando que as mulheres continuam a ter que corresponder a um protótipo no âmbito dos papeis de género, tendo que ser amáveis, bondosas, bonitas e carinhosas. O mesmo se passa com os homens, mas ao contrário - devem ser fortes e não sensíveis, não podendo demonstrar um lado feminino, assim como a mulher não pode ser masculina. Assim, afirma que as mulheres têm constantemente a preocupação de trabalhar para serem validadas e reconhecidas, tentando alcançar uma imagem de perfeição.
Por fim, terminou com alguns conselhos para escritores iniciantes. Antes de mais, sugere que escrevam o que gostam e porque gostam e não aquilo que acham que as outras pessoas irão querer ler, ou então irão odiar o próprio trabalho, sendo que o processo de escrita irá ser mais custoso e a história não será boa. Acrescentou para não terem medo de apagar o necessário, assim como a manter o emprego diário para além da escrita. Surpreendentemente, a escritora afirmou ser muito difícil ter a escrita como única e principal profissão, a não ser quem tem meios económicos mais que suficientes para sobreviver. No entanto, aconselha a que os autores não o façam, não só por essas razões, como pelo facto de ser maravilhoso ter uma maior interação com o mundo exterior.
Após esta conversa, não restaram dúvidas que Claire North é uma autora super acessível, divertida e humilde. Brincou durante toda a apresentação, demonstrando vontade de falar com as pessoas. Confesso que ainda não li nada da autora, mas fiquei bastante curiosa para conhecer o seu o trabalho, até porque as sinopses dos livros deixaram mesmo a pulga atrás da orelha. Quem sabe se em breve não estaremos novamente a falar sobre a escritora aqui!